Utilidades
Lembra como era o IR em papel? Contadores contam dificuldades
Entrega do formulário em papel foi aceita pela Receita Federal até 2010.
Se no computador o contribuinte já corre o risco de errar ao preencher a declaração do Imposto de Renda usando o programa da Receita Federal, na época em que só era possível elaborar o documento manualmente, no papel, a possibilidade de erro era bem maior, relembram especialistas. O G1 ouviu contadores para relatar como era feito o procedimento – e as lembranças são mais de dificuldades do que "boas recordações" – veja aqui como era o formulário.
De acordo com a Receita Federal, o preenchimento da declaração do IR pela internet teve início em 1997. Até 2010, contudo, ainda eram aceitas as duas formas de entrega (em papel ou pela internet). Até 2013 era permitida, ainda, a entrega da declaração por disquete de computador (um modelo de transição entre a declaração em papel e a online).
Na época do formulário em papel, os especialistas recordam que o mais usual era preencher o documento à mão mesmo, mas dizem que também era possível fazer o preenchimento na máquina de escrever ou até mesmo com a ajuda de programas de computador específicos (nesse último caso, o programa tinha os mesmos 'espaços' da ficha em papel, que depois era colocada na impressora e a impressão saía exatamente nos campos do formulário).
Além de demorar mais tempo para ser preenchida, era comum o contribuinte errar na hora de escrever ou digitar os números. Dessa forma, os contadores explicam que muitas pessoas precisavam refazer a declaração para "passar a limpo" os dados. Além disso, digitação errada de valores ou erros de grafia, mais facilmente evitados hoje, eram recorrentes e faziam as pessoas caírem na malha fina.
O contador Wilson Gimenez Júnior, vice-presidente Administrativo do Sescon-SP, afirma que era comum o contribuinte cair na malha fina, por exemplo, porque o fiscal não conseguia entender o que estava escrito.
“Preencher à mão acarretava em uma série de problemas, porque a fiscalização não entendia o que estava escrito e com frequência as pessoas eram chamadas para prestar esclarecimento. Muitas vezes a causa da malha fina era a declaração ilegível, o fiscal pedia para o contribuinte comparecer na agência da Receita e explicar o que ele escreveu”, recorda. “Hoje, quando você recebe uma notificação ou acessa o Portal e-Cac, na maioria dos casos o problema já foi identificado e se faz uma retificação online, inclusive. Na época, não se tinha esse controle absoluto”, sugere.
Quando era manual, você tinha que fazer a conta"
Gimenez Júnior estima que elaborar a declaração no papel era cerca de quatro a cinco vezes mais demorado do que pelo sistema atual da Receita, no computador. “Errar era uma coisa normal. Era complicado. Se apagava e rasgava a folha tinha que fazer tudo de novo. Uma declaração, por mais simples que ela fosse, ela seguramente demorava quatro ou cinco vezes mais do que demora no computador”, avalia.
Fazendo cálculos
Outro problema era a necessidade de fazer manualmente o cálculo do imposto a pagar ou a ser restituído. Atualmente, o programa da Receita já faz o cálculo automaticamente, inclusive apontando para a mais vantajosa ao contribuinte, diz o diretor-executivo da Confirp Consultoria Contábil, Richard Domingos.
"No sistema de hoje você lança as informações e ele calcula para você qual é a melhor opção nos dois modelos, o próprio programa opta pelo que mais favorece o contribuinte. Quando era manual, você tinha que fazer a conta". Ele explica que o cálculo é complexo, tem que jogar os rendimentos tributáveis, colocar os bens e direitos, determinar as despesas dedutíveis, entre outros. "Você apurava cada somatória de cada campo e transportava para o cálculo do imposto. Uma pessoa leiga que não tinha conhecimento nenhum tinha muita dificuldades de fazer conta", recorda.
Na máquina de escrever
Para tentar agilizar o processo, escritórios de contabilidade faziam as declarações ou em máquinas de escrever ou até mesmo em softwares de computador desenvolvidos justamente para esse fim.
“Na máquina era horroroso. E o pior era o carbono. Você preenchia e ia ficar sem nenhuma cópia para você? Então tinha que usar o carbono. Era como se fosse duas folhas de papel A4 coladas, como se fosse um papel almaço. Só que a máquina não tinha espaço grande para colocar e declaração e visualizar as duas partes do papel almaço. Enrugava tudo”, lembra Gimenez Júnior.
O advogado Samir Choaib disse que trabalhava numa empresa internacional de auditoria independente e o procedimento era o seguinte: tirar cópias de todos os documentos originais; elaborar a declaração escrita à mão; passar para a revisão de um superior (que também fazia as correções à mão); passar a versão corrigida para a datilografia (havia um departamento apenas para isso); voltar da datilografia para correção da datilografia pela pessoa que elaborou; voltar para a correção dos erros de digitação identificados; finalização e, por último, realizar a entrega do formulário na agência bancária. “Realmente, uma maratona, e mesmo assim, muitos erros, que hoje não mais ocorrem, ocorriam naquela época”, afirma.
De acordo com Gimenez Júnior, as atuais fichas que existem no programa da Receita (como ‘Bens e Direitos’, ‘Dependentes’ etc.) eram na época separadas em células de papel. E era necessário preencher cada uma das células. Depois de preenchida, a declaração tinha que ser entregue pessoalmente nos agências da Receita ou nos bancos oficiais. O contribuinte recebia um recibo da entrega.
Melhora
Para o contador Gimenez Júnior, hoje a tecnologia aprimorou o processo. “Eu acho que foi excelente. Trouxe primeiro uma facilidade para inserção dos dados. Aquele trabalho artesanal não existe mais, ficou a cargo do computador, do software, do aplicativo, facilitou a vida dos contribuintes, dos contadores, das empresas de contabilidade, com certeza. (...) E do lado da receita nem se fala, com a tecnologia da informação, a inovação, a modernidade, a inserção dos dados em fichas pré-formatadas. Facilitou a vida da receita na fiscalização.”
Ele citou, por exemplo, o cruzamento das informações pelo sistema do computador. “Imagina na época, isso era feito à mão. O fiscal tinha que pegar a declaração da pessoa jurídica e da pessoa física e conferir cada item”
Richard Domingo cita, ainda, que muitos números como CPF e CNPJ de fontes pagadores são conferidos e validados automaticamente pelo sistema. "Ele valida alguns campos para você não entregar errado, como o CPF errado de algum médico. Antes eles processavam primeiro, era um retrabalho."