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Dólar barato é passado

Na visão dele, parte do aumento do dólar reflete ainda mudanças de fundamentos domésticos, como o crescimento frustrante do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2013.

Fonte: Correio Braziliense

O consumidor que deseja viajar para fora do país deve preparar o bolso. Segundo o Banco Central, o dólar alto veio para ficar. Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, a instituição reforçou a visão de que a moeda norte-americana segue em tendência de elevação, sobretudo devido ao fim de estímulos nos Estados Unidos. Para o governo brasileiro, uma cotação em torno de R$ 2,10 ainda pode ser considerada confortável, porque não pressiona demasiadamente a inflação e ainda melhora um pouco a competitividade da indústria.

O Banco Central, por meio de intervenções no mercado e da taxa de juros, tem tentado arrefecer o ritmo de expansão da divisa norte-americana. Porém, avaliam economistas, a tarefa será difícil. "O crescimento mais firme dos EUA sugere um dólar mais forte. Além disso, a desaceleração na China gera pressão de depreciação em moedas de países exportadores de commodities, como o Brasil, a Austrália e o Chile", argumentou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Na visão dele, parte do aumento do dólar reflete ainda mudanças de fundamentos domésticos, como o crescimento frustrante do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre de 2013.

Para Sidnei Nehme, economista e diretor executivo da NGO Corretora, o BC está preocupado com os reflexos dessa elevação sobre o custo de vida. Até por isso, explica Nehme, o Executivo tirou o pedágio sobre o ingresso de recursos externos no Brasil — o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que era de 6% e foi para zero. "Teimosamente, o governo manteve uma postura de que o país estava em um pedestal, que continuava a despertar uma atratividade para os investidores estrangeiros que não existia mais. Agora, voltou atrás", disse.

Custo de vida
Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco West LB, a "tendência externa desinflacionária" deixou de existir. Para ele, o fim dos estímulos monetários nos Estados Unidos e a possibilidade de um aumento de juros por parte do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) tendem a diminuir o volume de capital externo destinado ao Brasil e a elevar a divisa norte-americana frente ao real. "O BC atuou, com a alta de juros, para reduzir, ao mesmo tempo, a inflação e o dólar", observou. "Na ata do Copom, a instituição se mostra otimista com o crescimento, porque os investimentos começaram a se recuperar. Fica claro, porém, que há um receio de que a inflação desfaça esse cenário", explicou.

Ontem, o dólar caiu 0,40% frente ao real e fechou cotado a R$ 2,123 na venda. O recuo, segundo operadores do mercado financeiro, ocorreu em função do entendimento de que o BC continuará a apertar os juros em um ritmo de 0,50 ponto percentual por reunião do Copom até o nível máximo de 9,50%. A avaliação é de que a ata do colegiado do BC trouxe um discurso mais duro contra o aumento do custo de vida. Os analistas também entendem que, com o início da campanha eleitoral, o governo quer evitar que a inflação se torne uma bandeira da oposição e, por isso, deve intensificar o combate à carestia elevando a Selic. E, quanto mais alta for a taxa, maior o ingresso de dólares no país, o que pode reduzir a cotação da moeda.