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Copom não tem medo de volatilidade

Não é a primeira vez que a autoridade age de forma a provocar intensos movimentos na curva de juros.

Autor: Lucinda PintoFonte: Valor Econômico

A ata do Copom deu mais uma indicação de que este Banco Central tem mesmo um "modus operandi" singular, que torna muito mais difícil prever o rumo da política monetária. Além de desautorizar expressamente as apostas que passaram a vigorar após a última reunião, de que o juro básico cairia para perto de 8,50% este ano, o BC fez questão de não se comprometer com a manutenção do atual ritmo de alívio. Ou seja, eliminou a convicção de parte do mercado de que haveria, necessariamente, mais um corte da Selic de 0,75 ponto percentual.

Esse recado foi deixado no parágrafo 30, em que o cenário recomenda a "redistribuição temporal do ajuste total das condições monetárias como a estratégia mais apropriada". Se, de fato, houver a mencionada redistribuição e não for definido um segundo corte de 0,75 ponto, o BC estará rompendo um dos padrões esperados das autoridades monetárias: a fuga da volatilidade do juro básico.

Especialistas defendem que as decisões de política monetária mantenham padrões claros e contínuos de forma a evitar forte oscilação dos ativos. Com base nesse princípio, economistas afirmaram, após a decisão do BC de cortar a Selic em 0,75 ponto, que a mudança de passo representaria o compromisso de pelo menos mais um corte dessa magnitude, a fim de evitar a tal volatilidade. Agora, essa convicção parece abalada.

Se, de fato, o BC alterar o ritmo e voltar a cortar o juro em 0,50 ponto, estará apenas confirmando o que o mercado já supõe: que a volatilidade, que tanto assusta o mercado, não assusta tanto esse BC.

Não é a primeira vez que a autoridade age de forma a provocar intensos movimentos na curva de juros. O mais emblemático foi o início do ciclo de alívio monetário, em agosto, quando o BC inverteu a trajetória da política monetária, deixando de subir a taxa para começar a derrubá-la, sem aviso prévio. Mas a simples omissão de indicações mais claras de suas motivações no "statement" que acompanhou a decisão de cortar os juros em 0,75 ponto também é combustível para a tal volatilidade.

Afinal, a decisão ocorreu uma reunião após a ata indicar o entendimento do BC de que o juro neutro no país estava menor, o que abriria espaço para testar novo nível de juro nominal. Assim, ficou aberto o espaço para que as projeções ficassem mais otimistas em relação ao rumo da Selic.

O que pode estar movendo o BC a corrigir os excessos que o mercado parece ter cometido pode ser o comportamento da parte mais longa da curva de juros - parâmetro para o custo do crédito -, que mostravam alta das taxas na mesma medida em que cresciam as projeções de Selic abaixo de 8,75%.

Mas há também o entrave da poupança que, em ano eleitoral, parece ser mais difícil de ser demovido. A estimativa é que uma Selic abaixo de 9% tornaria a caderneta mais atrativa do que as demais modalidades de investimento e, assim, desequilibraria o sistema.

Para o diretor do departamento de Economia do Bradesco, Octavio de Barros, o tom da ata mostra que a reunião do Copom terminou, de fato, apenas na quarta-feira, véspera da divulgação do documento. Isso porque, a indicação do BC de que a Selic não deve cair abaixo dos 9% parece ter sido uma reação à deterioração das expectativas de inflação observada ao longo da última semana, depois, portanto, da decisão do Copom.

Essa piora foi sentida na inclinação da curva de juros - alta dos contratos mais longos e queda dos DIs de curto prazo, mostrando que o mercado temia que o corte da Selic agora traria a inflação de volta a forçaria o BC a voltar a subir o juro. Também se deteriorou a chamada inflação implícita da NTN-B (parcela do rendimento que representa a previsão para o IPCA). Na quarta-feira passada, essa taxa bateu inéditos 6,24%, próximo, portanto, do teto da meta de inflação. Para se ter uma ideia, em 7 de março, quando ocorreu a reunião do Copom, essa taxa era de 5,68%.

Barros observa que, com a decisão de acelerar o ritmo de corte da Selic, o BC induziu o mercado a acreditar que o Copom poderia ir mais longe nos juros. "Poderiam ter colocado no comunicado na saída da reunião o que disseram no parágrafo 35 (que o juro deve se acomodar em nível ligeiramente acima do menor nível histórico). Como não colocaram, isso, na minha modesta opinião, explicita que o texto da ata foi uma reação à reação do mercado e que eles provavelmente não tinham isso tão claro no dia do Copom."

Ele ressalta que embora tenha sido mais duro ao definir o limite de 9% como piso para a Selic, na outra direção, o BC implicitamente replica a famosa frase do Fed "por um período suficientemente prolongado", ao mencionar "se estabilizando" em 9%. "Portanto, 9% e estabilidade nesse patamar em 2013 parece ser a vontade do Bacen "neste momento". Mas muita água pode e deve rolar até lá."

Em reação à mensagem do BC, o mercado iniciou um movimento de correção da curva. Os contratos mais curtos subiram, buscando um nível mais compatível com essa ideia. Ontem, o DI janeiro/2013, que indica a aposta para o rumo dos juros para o fim do ano, subiu de 8,66% para 8,93%; DI janeiro/2014 de 9,39% para 9,56%.