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Cresce o pagamento de juros nos cartões
Crédito a juros dispara no cartão
O rotativo e as compras parceladas com juros no cartão de crédito disparam em fevereiro, com alta de 45,5% em comparação a igual mês de 2009, a R$ 15,1 bilhões pelos últimos dados do Banco Central (BC). Além dos efeitos sazonais, decorrentes do acúmulo de obrigações típicas de primeiros trimestres, como IPVA, IPTU, material e matrículas escolares, o salto revela a participação crescente das classes C, D e E nesse mercado, público que vem tendo acesso aos plásticos com bandeira mesmo antes de ter conta corrente. São consumidores que têm sido alvo dos correspondentes bancários e também das redes de varejo para converter unidades "private label" em cartões com bandeira, mas que ainda não assimilaram o efeito perverso dos juros ao pagar o mínimo da fatura.
A iniciativa dos bancos de oferecer a opção de parcelamento nos extratos mensais pode ainda estar contribuindo para inflar as concessões a juros. Instituições como Itaú, Santander, Bradesco e Panamericano têm apresentado a alternativa - com alongamento do prazo, mas no mesmo custo do rotativo. Nos anos recentes, em nenhum fevereiro observou-se taxas de crescimento dessa ordem. Os R$ 15 bilhões equiparam-se aos desembolsos de dezembro, mês de pico nas vendas do varejo, em que muitos consumidores optam pelo parcelamento na hora da compra.
Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Paulo Caffarelli, com a inclusão de novas faixas socioeconômicas aos portfólios é natural que haja um repique no rotativo. Em março, só as transações a crédito movimentaram R$ 23,8 bilhões, com crescimento de 23% sobre igual mês em 2009. A base chegava a 141 milhões de plásticos. "A ascendência das classes C, D e E está trazendo um público ainda não bancarizado para o mercado e há aí um processo de aprendizagem a se cumprir", diz. Essa pode ser uma tendência, já que grandes bancos, como o próprio Banco do Brasil, instituição onde responde pela vice-presidência de Cartões e Novos Negócios, Caixa Econômica Federal e Bradesco têm empreendido esforços para chegar às camadas menos privilegiadas da população. "Até 2020 serão mais de 100 milhões de brasileiros com acesso a produtos financeiros e há uma expectativa fantástica para o mercado de cartões."
Na divisão do bolo, a classe C já representa 38% da base de cartões crédito no mercado, enquanto as classes D e E respondem por uma fatia de 20%. Entre os cartões de loja, essa proporção é de 26% na classe C e de 15% nas D e E.
O maior ritmo de crescimento das operações a juros não prejudica a dinâmica de expansão do setor junto aos públicos emergentes, assegura Cafarelli, já que só um terço dos consumidores recorre a essa forma de financiamento. A inadimplência, que no rotativo e no parcelado com juros chegou a 28,3% em julho, hoje está na casa dos 24%. Considerando-se os atrasos acima de 90 dias sobre o saldo total de crédito em cartões, de R$ 89,8 bilhões - valor que considera o parcelado sem juros e os créditos a faturar em curso normal -, a taxa recuou de 9,3% em fevereiro de 2009 para 7,4%. O prazo médio das operações diminuiu de 54 para 30 dias.
Já a política das instituições de parcelar a fatura para o cliente sair do risco de rodar mensalmente no mínimo tem sido uma atitude preventiva para evitar novos saltos da inadimplência, conta o presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Adalberto Savioli, diretor do Panamericano. "Quando propõe o parcelamento, o banco está preservando o cliente e a receita, porque o rotativo pode deixar você feliz um ou dois meses, no terceiro você fica preocupado e no quarto triste porque o devedor não vai conseguir pagar." No parcelado, a inadimplência se equipara à do Crédito Direto ao Consumidor (CDC), que tinha atrasos equivalentes a 10,5% em fevereiro.