Utilidades
Empresas de vendas diretas estão distantes da crise
Na contramão do colapso econômico, segmento vai crescer dois dígitos
Natalia Pacheco
Na contramão do colapso econômico, segmento vai crescer dois dígitos
O mercado de vendas diretas ignora a atual crise financeira internacional e a previsão para este ano é de crescimento de dois dígitos, segundo a Associação Brasileira de Vendas Diretas (ABEVD).
O segmento registrou lucro de R$ 18,5 bilhões no ano passado, o que representa um aumento de 14,1% quando comparado a 2007. Mesmo no ápice do colapso econômico mundial, o setor cresceu 8,7% no último trimestre de 2008, movimentando R$ 5,5 bilhões.
Cerca de 2 milhões de revendedores comercializaram 1,5 bilhões de produtos no ano passado. O número de distribuidores cresceu 7,2% de 2007 para 2008 e o aumento de itens vendidos foi de 11,3%.
O presidente da ABEVD, Lírio Cipriani, diz que o setor tende a ser poupado pela crise no curto e no médio prazo.
– É um mercado que não opera com base no crédito – explicou.
O diretor-geral da Herbalife no Brasil, Marcelo Zalcberg, ressalta que o segmento vem crescendo mais de 10% há oito anos, o que demonstra a consolidação do mercado.
– O setor cresce, principalmente por dois motivos. O primeiro é a flexibilidade do horário. O outro é que o investimento inicial é muito baixo – destacou.
Oportunidade
O executivo também informou que o segmento costuma crescer em momentos de crise, já que é uma oportunidade, o que falta em momentos de turbulência econômica.
– É uma atividade que pode ser complementar ao orçamento da família ou até mesmo fonte exclusiva de renda – disse Zalcberg.
A empresa possui 1,9 milhões de revendedores pelo mundo, sendo 1,36 mil no Brasil. O faturamento da companhia no ano passado foi de US$ 3,8 bilhões. No país, as vendas expandiram cerca de 7%. Com o resultado, o Brasil passou a ser o terceiro maior mercado da empresa no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e México.
– São produtos que se ajustam ao bolso do consumidor, que vão de R$ 10 a R$ 150. E ainda tem um outro detalhe. O público de produtos de nutrição e de cuidados pessoais é muito forte no país. O brasileiro é muito preocupado com a estética – ressaltou.
O vendedor Paulo Lino, vive apenas da renda da Herbalife.
– As vendas me sustentam há cinco anos e elas vão de vento em popa - contou.
A Demillus também não sente a crise, mas com medo de quedas nas vendas, a empresa lançou novas peças e baixou os preços.
– A estratégia para manter o ritmo, de 15% de crescimento por ano, é tornar os preços mais competitivos – contou a diretora de Marketing, Eva Goldman.
Muito trabalho pela frente
A outra vantagem das vendas diretas é que ainda há mercado para ser atendido, segundo o líder regional da Natura, Arnô Araújo.
– Essa é a outra razão pela qual a crise não nos atingiu. E ao mesmo tempo esse é o nosso grande desafio. Fazer com que os revendedores atendam todos esses consumidores que nunca foram visitados – disse.
Para Araújo, o crescimento do poder aquisitivo das classes C, D e E nos últimos anos aumentou o público das empresas de vendas diretas.
– Há um nicho ainda desconhecido. Temos que estudar esse público para chegarmos nele – explicou o representante da Natura, que ainda destacou que a crise afasta os consumidores do comércio. – Com isso, há uma abertura para maior para os revendedores, que vão de porta em porta.
O lucro bruto da empresa no primeiro trimestre deste ano foi de R$ 572 milhões, valor 67% maior ao alcançado no mesmo período de 2008. A Natura fechou o ano passado com 850 mil consultores, dos quais 731 mil estão no Brasil e 119 mil no exterior (Argentina, Peru, Chile, Venezuela, México e França). A companhia repassou mais de R$ 2 bilhões da receita bruta para os revendedores no ano passado.
A estudante, de 20 anos, Priscila Carvalho, é revendedora há dois anos. Ela conta que o mercado varia muito, mas sempre consegue faturar alguma coisa sem gastar nada.
– Levo as revistas para a faculdade e para o trabalho. Tem mês que ganho R$ 50 e outros eu faturo R$ 200, sem ter custo – disse.